A construção do modelo de pesquisa

By outubro 2, 2019Uncategorized

Freddy Enrique Ramos Guimarães – freddy.ramos82@gmail.com

Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade de Brasília

Ensaio desenvolvido na disciplina Delineamentos de Pesquisa em 2019/2 – Prof. Fabio Iglesias

No início a elaboração do projeto de uma pesquisa científica é difícil e, muitas vezes, uma tarefa árdua; principalmente para os alunos pesquisadores iniciantes. Mas esse contexto pode ser modificado, tornando a experiência inicial mais agradável, a partir da construção de um modelo visual do seu objeto de pesquisa. O texto abaixo descreve uma abordagem simples e didática de como construir um modelo visual, dando um ponta-pé inicial na elaboração do projeto de pesquisa.

O livro Creating Models in Psychological Research de Olivier Mesly recomenda a adoção de uma abordagem multimétodo, responsável por desenvolver uma visão ampla e multinível do objeto de pesquisa, em detrimento de uma abordagem unilateral.

Inicialmente, o pesquisador deve adotar algumas regras básicas para a construção do seu modelo de pesquisa, são elas: assumir uma “postura” adequada e buscar a multidisciplinaridade.

A “postura” adequada – atitude do pesquisador, pode ser construída em três passos simples. Primeiro: ele deve se conhecer – saber o que lhe motiva, evitando futuro desânimo e tédio decorrente de novas motivações que poderão surgir durante a pesquisa; segundo: identificar os seus preconceitos/vieses, através de uma auto etnografia, para fugir de esquemas conceituais; e terceiro: o tópico escolhido pelo pesquisador deve gerar ação, a qual deve ancorar-se em um contexto particular.

Buscar a multidisciplinaridade tem função de expandir os interesses em direções opostas, obter o máximo de informações possíveis a respeito do seu objeto de estudo através das pesquisas em múltiplas disciplinas. Após esse start inicial, o pesquisador estará pronto para restringir o seu foco para esferas mais específicas do seu objeto de interesse.

Uma vez determinado seu tópico de pesquisa, o pesquisador deve iniciar a construção do seu modelo (do mais simples para o mais complexo) e justificá-lo por meio dos textos científicos anteriores; pois, o mesmo será a ferramenta principal para a construção do projeto de pesquisa.

O modelo é construído a partir de estruturas específicas que servem para identificar o objeto principal do estudo através de componentes que constituem esse objeto, componentes gerados pelo objeto de estudo e as variáveis observáveis do objeto e de seus componentes. Estas estruturas podem ser chamadas de bolhas, setas e retângulos, onde cada uma possui sua função específica, descritas a seguir.

Bolhas são para as construções, setas são para os laços entre as bolhas e os retângulos servem para destacar as variáveis observáveis – que podem ser medidas. Sendo assim, a bolha principal representa o tópico chave do pesquisador, a qual dois tipos de setas irão apontar ou espalhar.

Primeiro, são as setas constituintes estruturais e funcionais, classificadas como binárias e/ou contínuas, e não estão sujeitas ao tempo. O segundo tipo de seta é chamado de consequente e sofre influência temporal.

As setas constituintes estruturais são aquelas que apontam para a bolha principal, elas devem partir de bolhas estruturais que formam o objeto principal do estudo. As setas estruturais podem representar uma medida binária (sim ou não; presente ou ausente) ou podem representar uma escala contínua (do “nada” ao “completamente”), ou seja, uma medida de intensidade. Observe o exemplo abaixo:

 

 

 

As setas constituintes funcionais, diferentemente das estruturais, são uma expressão do objeto principal e se espalham a partir deste, apontando para bolhas funcionais; conforme o exemplo a seguir:

 

 

Portanto, o pesquisador necessita identificar as variáveis estruturais e funcionais para definir seu objeto de estudo por completo

Há também, conforme comentado anteriormente, as setas consequentes que sofrem influência temporal. Como regra geral, o fator tempo se desloca da esquerda para a direita. Portanto, as bolhas da direita (variável dependente) sofrem influência do tempo. Observe que no exemplo abaixo as bolhas obedecem a uma sequência lógica de acontecimentos influenciados pelo tempo.

Após a definição das variáveis estruturais e funcionais, o pesquisador deve ser capaz de definir um objeto pelo que é e pelo que não é, tendo o objetivo de delinear a área de sua investigação. Para realizar essa definição o pesquisador deve observar “observáveis” (um fenômeno que pode ver, ouvir, tocar, que se movimenta…); ou seja, observar expressões comportamentais, não sensíveis ao tempo em relação à construção a que se referem, de bolhas estruturais ou funcionais.

Os retângulos são uma forma de representar, graficamente, as variáveis observáveis. Recomenda-se um mínimo de três observáveis por bolha. Caso seja encontrado uma discordância entre dois observáveis sobre como permitem inferir o objeto de estudo, o terceiro será utilizado para o desempate. Portanto, os “observáveis” devem ser significativos e mensuráveis; uma vez determinado essas variáveis, o pesquisador pode criar questionários qualitativos e quantitativos.

Este meio de extrair observáveis, a partir dos objetos de estudo e de suas variáveis funcionais e estruturais, é um método conhecido como percolação de dados, a qual, reúne diversas atividades simultaneamente; tais como: o pensar, a construção de diversas etapas e uma maneira de analisar fenômenos.

Ao final da extração de dados, o modelo que antes era muito simples, tornou-se muito complexo, porém fácil de expressar e pesquisar devido a clareza com que foi construído.

 

Contudo, para tornar o processo de pesquisa agradável, o objeto a ser pesquisado deverá ser algo valioso, tanto para o pesquisador quanto para a população em geral; a partir desse ponto inicial a utilização de setas, bolhas e a identificação das variáveis retangulares facilitarão a montagem do modelo visual, tornando o objeto de pesquisa claro e de fácil explicação.

 

Referência

Mesly, O. (2015). Creating models in psychological research. New York: Springer.

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